A Minha Alma
Aqui estou eu.
Uma alma presa num corpo já morto. Vivo num mundo onde as pessoas preferem aceitar uma alma perdida, onde preferem rituais exorcistas. E entretanto aqui estou eu.
Uma vampira.
Crucifixos? Alhos? Estacas de madeira no coração? Oh, sim… Quando é que iram perceber que o coração não bate? Que não precisamos dele? A única e essencial maneira de nos mantermos vivos é bebendo sangue, para que possamos regenerar. Ah! Sim… O sol? Adoro o sol... Ao contrário do que afirmam os humanos, nós não morremos ao sol. Pura e simplesmente, temos uma pele muito mais sensível que a dos humanos. Ou seja, apanhamos mais rapidamente queimaduras solares. Nada que não se cure com um pouco de sangue.
Neste momento devem estar a perguntar quem sou eu realmente. O meu nome é Atena. Tenho setecentos anos. Vivo na sombra dos humanos desde os meus vinte e um. E vivo amaldiçoada desde então. Imaginem a vossa vida sem amor. Não tenho amigos, só companheiros de caça. Não tenho família, pois já morreram todos. Não tenho amor, porque ninguém quereria amar uma vampira.
Recentemente cruzei-me com um humano, o mais bonito e atraente com que já havia me cruzado em todos estes séculos. A atracção entre nós foi tão intensa... Mas, como iria eu aproximar-me dele sem o assustar com a minha triste realidade? Poderia eu ter o direito de o condenar a esta forma de morte? Por muito amor que houvesse entre nós, será que resistiria a séculos e séculos de existência?
Oh, Trevas! A minha alma carece de afecto... De alguém que seja corajoso o suficiente para poder amar uma vampira... Daria tudo o que tenho para voltar a ser humana. Para que quero eu a velocidade se não tenho ninguém para quem correr. Para quê a força se não tenho quem proteger? Para que serve um corpo frio se não tenho quem o aqueça?
Porque fazem de nós heróis ou monstros? Não passamos de almas humanas em corpos que acompanham a velocidade dos sonhos, mas não os nossos sonhos. Não os meus sonhos de humana. Os sonhos não têm limites, mas a realidade não os acompanha.
Peço-vos... Não criem ilusões sobre nós... Nós não somos o que parecemos ser. Somos apenas humanos com defeitos e virtudes como todos vocês. Simplesmente, só precisamos do vosso sangue para nos mantermos vivos.